Pr. Isaac Vicente Ribeiro
“Então, Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, o Sacerdote, estava assentado numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor. Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor e chorou abundantemente”. (I Samuel. 1.9-10).
A visão que muitos tem com relação às lágrimas, parece não se alinhar com os ensinamentos de Jesus. Para muitos, lágrimas são um sinal de fraqueza. Mas as lágrimas, na verdade, é um dos bens mais preciosos. Chorar é um escape, uma forma de esvaziar as dores da alma. Lágrimas retidas certamente endurecem o coração, devido ao acúmulo de mágoas. Quando aprendemos a chorar pela causa justa, e isto, na hora e no lugar certo, não tenho dúvidas que Deus vem em nosso socorro. A Bíblia descreve a história de uma mulher chamada Ana, uma israelita que temia a Deus, e que recebeu sua bênção (a cura da esterilidade), quando derramou a sua amargura diante do Senhor. Estéril, era humilhada constantemente numa época em que não poderia haver maldição maior para uma mulher, do que ter o útero fechado. Mesmo estando diante de uma situação irreversível aos olhos humanos, Ana assumiu sua situação e resolveu derramar diante do Senhor toda a sua dor.
Às vezes, choramos por auto-compaixão, ao invés de chorarmos por desabafo, como quem tem intimidade com o Senhor. Todavia, Jesus jamais se sensibilizou diante das lágrimas da auto-compaixão, mas sempre veio ao encontro de corações sinceros, humildes e doloridos. Por isso, às vezes temos a impressão de que o Senhor não escuta nossas orações. Mas Ele escuta! Escuta, e cala-se diante do nosso tom de cobrança e revolta. Por isto mesmo, há tantos cristãos amargos e descrentes do poder da oração. Diz o texto que Ana: “Com amargura na alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente”. Lágrimas derramadas aos pés do Senhor são valiosas, cada uma delas são recolhidas e levada diante de Deus. As lágrimas da intercessão não devem significar desespero da situação, mas o desnudar sem reservas da alma necessitada de Deus. O choro rega as sementes das nossas palavras. A princípio, o sacerdote Eli, que já estava com adiantada idade e não enxergava bem, pensou que ela estava embriagada, e lhe disse: “Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho”. Porém Ana respondeu e disse: “Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito, nem vinho nem bebida forte bebi, porém venho derramando a minha alma perante o Senhor... porque pelo excesso da minha ansiedade e da minha aflição é que tenho falado até agora.” (I Samuel, 1.15,16). Quem conhece a história sabe que, como resultado desta oração com lágrimas, Deus deu a Ana, um menino chamado Samuel, que se tornou um dos mais ilustres servos de Deus no velho testamento, desenvolvendo ao longo de sua vida, o tríplice ministério de Sacerdote, Profeta e Juiz
Caros leitores, assim como Ana, devemos aprender levar a Deus, a nossas dores. Porém, sem revolta, sem exigência, mas com amor, ternura e acima de tudo humildade. Deus nos abençoa, não porque somos merecedores, mas porque ele é bom, e a sua misericórdia dura para sempre. Se for preciso, chore, mas chore no lugar certo e o melhor lugar é aos pés do Senhor. Lágrimas diante do Senhor prenunciam o consolo para todo aquele que consegue vislumbrar, através da escuridão momentânea das nuvens, as chuvas de bênçãos que se seguem. Muitas vezes a escuridão em que nos encontramos simplesmente anuncia o iminente derramar de benção sobre nossas vidas. Ë por isto que Jesus afirmou: “feliz, são os que choram porque eles serão consolados”. (Mt. 5.4).
Deus vos abençoe.